De João Pessoa-PB chegou este livro, organizado pela querida amiga Neide Medeiros Santos e por Yó Limeira.
Encantei-me com os depoimentos de escritores paraibanos sobre suas memórias literárias e modos de se relacionar com a leitura desde a infância.
A família e a escola aparecem com freqüência nas histórias de iniciação literária dos autores, ora com acertos, ora com equívocos no modo de criar a aproximação com os livros.
Tendo vivido em casas cheias de livros, ou com a completa ausência deles, os autores criaram desde cedo, vínculos fortes com as palavras, através dos repertórios de leitura disponíveis em seu tempo e ao seu alcance ( Clássicos nacionais e estrangeiros, Coleção Tesouro da Juventude, Almanaque Fontoura, histórias em quadrinhos, livrinhos de faroeste, narrativas bíblicas, contos de fadas, lendas do folclore brasileiro, Cordel, dentre outros recursos de leitura citados ).
O que emociona é a paixão com que os depoimentos falam da “felicidade da leitura” e o modo como os autores se entregam à felicidade de ser leitor.
Parabéns à Neide Medeiros Santos e à Yó Limeira, organizadoras da excelente obra.
“ Há cerca de cinco anos organizamos a coletânea “Memórias Rendilhadas” com depoimentos de quinze escritoras paraibanas ou radicadas aqui no Estado, com suas memórias de leituras na infância e adolescência. A boa receptividade do livro nos fez pensar numa versão agora de nossos companheiros escritores sobre seus “alumbramentos” pelas leituras nessa mesma fase da vida.
O título Confesso que li, que nos remete ao livro autobiográfico de Pablo Neruda, foi uma sugestão do poeta Cláudio Limeira por nós logo acatada no primeiro momento.
Não é tão fácil, num universo tão vasto de escritores, selecionar tão poucos, dado o espaço exíguo da coletânea. Procuramos tecer um painel que pudesse abranger poetas, ficcionistas, cronistas, e ensaístas, observando a mais diversas tendências. Assim, a diferença de idade, gêneros literários, muito contribuiu para a diversidade do conteúdo.
Os mais jovens discorreram sobre leituras modernas, outros rememoraram histórias com sabor bom de relíquias bem guardadas no baú da memória. As histórias em quadrinhos, os velhos gibis, estão presentes, dando brilho e alegria a muitos textos. O cinema também se faz presente como estímulo à leitura em alguns autores. Ao rememorar suas primeiras leituras, eles vão também desenhando os traços culturais, usos e costumes de um tempo, fazendo com que a coletânea nos ofereça um panorama de leitura entre os anos 40 e 90, do século XX, portanto abrangendo cinquenta anos de leitura em nosso Estado.
Vale salientar que não houve de nossa parte pretensão de teorizar sobre o assunto, tendo por objetivo maior trazer, de forma espontânea e descontraída, os livros que figuravam no cardápio desses escritores na segunda metade do século recém-findo.
Esperamos, com este trabalho, oferecer subsídio para pesquisas no âmbito de leitura, para alunos e professores, em áreas como letras, pedagogia, biblioteconomia, etc.
Sabemos da importância da leitura na educação, principalmente entre crianças e jovens por ser o livro uma porta aberta para a aquisição de outros conhecimentos.
Esta coletânea, através das experiências vividas aqui pelos seus autores, deixa bem evidente a magia e poder da leitura na formação dos jovens em todos os tempos e lugares”. Neide Medeiros Santos e Yó Limeira
“ A experiência de ler é a mais profunda que o homem tem em termos de comunicação com o semelhante. Nosso diálogo com os outros é incompleto, limitado por entraves sociais e afetivos. Ninguém, mesmo querendo, diz tudo nem ouve tudo. Ninguém se abre para nós com a amplitude e a intensidade com que os personagens o fazem. Eles não têm segredos e, ao revelar-se, dizem muito de nós. Cada personagem é um confidente e um espelho em que nos miramos com solidariedade e por vezes com horror”. ( Chico Viana , P. 41)
Entre as obras que mais me marcaram, na primeira fase de leitura, dos 9 aos 13 anos, eis as Fábulas de Esopo, o legado de Apuleio e o seu Asno de Ouro – que inspirou em outras épocas autores como Bocaccio e Cervantes - , La Fontaine e suas raposas, gansos e lebres; as primeiras perguntas,o que somos,o que é o vácuo,o mundo tem fim, Deus existe, a Terra é mesmo redonda , por que morremos, fundiam-se à lendas ao real, aos causos e fábulas e a ficção virava uma representação verdadeira do mundo – o Tesouro da Juventude”. ( Carlos Tavares, P.3)
“Comecei a ler livros propriamente ditos aos doze ou treze anos, quando um vizinho de minha idade, de ascendência austríaca – desses que, sem permissão para as brincadeiras de rua, vivia entre quatro paredes, cumprindo tarefas domésticas e escolares – me alertou para a existência da Biblioteca Pedro Moreno Gondim, na rua Aderbal Piragibe, também em Jaguaribe.
Não sei por que – provavelmente por puro acaso – os meus primeiros escritores lidos foram os ingleses. Somerset Maugham foi o primeiríssimo a me tomar a atenção e a me desviar das brincadeiras infantis, com seus dramas, aliás, nada infantis, como Um gosto e seis vinténs e O Biombo chinês. Depois veio Graham Greene com suas histórias policiais e políticas. Uma leitura que muito me impressionou foi A Hora final, de Nevil Shute, sobre o fim do mundo depois da explosão da bomba atômica”.
(João Batista de Brito P.116)
(João Batista de Brito P.116)
Nessa época eram choros, sambas, canções nostálgicas, de compositores como Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga. O romantismo e ironias de Noel Rosa, os dramas de Vicente Celestino, o lirismo de Ismael Silva.
Em tempos de misticismo, os cânticos nas missas, novenas e procissões. Não deixando de lembrar os repentistas de cordel, com seus desafios acompanhados pelos acordes monótonos das violas”.
(Hermano José P. 99)