quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Dentes de leite e outros mimos...






A leitura do poema  Dente de Leite, do livro Tá pronto, seu lobo?  inspirou este texto lindo da professora Rosane Maria Kreuch, de Florianópolis. Puxei do  blog da professora Rosane: Não corra, margarida,  não corra!

MEU PRIMEIRO
DENTE DE LEITE
CAIU DE DIA.
JUNTEI O DENTE
E GUARDEI NA BACIA.

O SEGUNDO DENTE
CAIU NO QUINTAL.
NASCEU UMA ROSEIRA
NO MESMO LUGAR.

O TERCEIRO DENTE
CAIU NO RIO.
FOGE, PEIXE,
QUE O DENTE TE VIU!

O QUARTO DENTE
ARRANQUEI COM LINHA
E JOGUEI NO TELHADO
PARA A ANDORINHA.

MEU QUINTO DENTE
CAIU EM DEZEMBRO.
DOS OUTROS DENTES,
JÁ NÃO ME LEMBRO.

O poema acima, que ilustra as páginas vinte e oito e vinte e nove do livro "Tá pronto, seu lobo?, da escritora catarinense Eloí Bocheco, é um exemplo de que a arte não pode ter uma função pré-estabelecida mas deve provocar os sentimentos. Para as crianças, considero lindo quando a arte provoca empatia, como no caso da poética troca dos dentes. 

Uma das características da arte é não ser literal. Outra é não ser possessiva nem endereçada. Ou seja, ao autor não é garantido que sua obra tenha uma única interpretação ou um único significado. Ao colocar uma obra para o mundo, o criador sabe que não terá mais controle sobre ela. Foi assim, lendo o poema  "Dente de Leite" e pensando no que eu gostaria de escrever a respeito dele, que lembrei de algo muito estranho:  há mais ou menos dezenove anos guardo os dentinhos de leite da minha filha (difícil acreditar, não é mesmo? Tem foto aí embaixo pra comprovar). Os dentinhos ficaram guardados numa caixinha, como se fossem um tesouro!

A leitura do poema e o encontro com estas lembranças me fizeram perceber a paradoxal relação entre o terno e o absurdo nisso tudo. Recordei, inclusive, que na época da troca de dentes da minha filha eu me disfarçava de "fada do dente" e deixava cartinhas de agradecimento com um dinheirinho sempre que ela fazia a gentileza de deixar o dentinho embaixo do travesseiro.  A minha filha nunca deu importância para estas coisas que eu inventava... e até hoje considera tudo uma grande bobagem. Sei lá, penso que ela tem outro jeito de lidar com estes assuntos. Eu, somente agora vejo aquele meu comportamento com estranheza.

Ainda com o poema em mãos resolvi que é chegada a hora de dar um destino para os dentes de leite. Algumas leituras que fiz (aqui e aqui) me ajudaram a perceber que a fada do dente foi repaginando-se ao longo dos anos e que,  atualmente, o legal é que as crianças doem seus dentinhos para alguma faculdade de odontologia onde eles serão usados para a realização de pesquisas científicas e como fontes de células-tronco.

Voltando a minha caixinha do tesouro, digo, dos dentes de leite, descobri que há apenas dezessete dos vinte que deveriam estar guardados lá. Felizmente, a doação pode ser feita com qualquer quantidade de dentes e em qualquer estado de conservação. Neste endereço há mais informações sobre o envio das preciosidades e o destino certo da minha caixinha. 

Concluindo, desapego é o que minha filha parece saber vivenciar desde pequena e eu ainda estou engatinhando nesta arte. 


                        

Link do blog  Não corra, margarida, não corra!