CANTORIAS DE JARDIM, de modo lúdico e afetivo, enlaça poeticamente um ramalhete de flores através de poemas inspirados na poesia oral do folclore.
O narrador poético conversa com as flores ( rosa, cravo, lírio, amor-perfeito, margarida, jasmim e demais flores do feixe poético), conta seus segredos e magias e, por vezes, chama o leitor para participar da cena poética, ora ofertando-lhe a flor homenageada, ora propondo um jogo de adivinhação, ora advertindo-o para perceber a flor, tal como faziam os cantores peregrinos e singelos de outrora.
Uma das primeiras visões que uma criança camponesa tinha em Duas Pontes , onde passei a infância, eram as flores nas paredes, nos canteiros, nas cercas das varandas, nos caramanchões. Os jardins surgiam das trocas de “mudas” entre os moradores. O ritual de receber a muda ( uma semente, um galhinho, um bulbo, um ramo) preparar a terra, plantar, cuidar e esperar a floração era um modo mágico de alimentar as amizades, os afetos e o gosto de viver.
Esse jeito de criar jardins eu achava fascinante ( e ainda acho). Assim, em Cantorias de Jardim, meu quinto livro pela Paulinas, homenageio, em versos, as flores que me viram crescer e me acompanharão pela vida afora. O procedimento poético e a linguagem para compor o ramalhete fui buscar nas fontes da tradição oral, cuja singeleza e brilho faz par com as flores vivas da memória.
“Acordar com cantorias de açucenas faz lembrar minha vó Luiza que, aos noventa anos, guardava sementes e nos dizia: “ plantem para o mundo”. Ela acreditava que muitos seres iriam admirar por ela. Faz lembrar minha mãe que caminhava quilômetros em busca de uma muda, sementes, ou uma folhinha de begônia, violeta, plantas variadas e esperava florescer. Lembro de ouvir minha mãe ao telefone com minhas tias: “me arruma uma mudinha de antúrio branco, outra do bem vermelho, tenho outras cores e posso te passar”.
Parabéns, Eloí, por juntar tantas flores e semear no mundo através do livro Cantorias de Jardim”.
Maria Salete Constantino Ramos
Professora em São José/SC