Vinicius Linné ( Habilis, 2012)
Em A menina que podia voar, o autor, Vinicius Linné, surpreende
já na dedicatória:“para uma borboleta,
uma mariposa e um mandarim”.
A história é narrada, ou melhor,
cacarejada por uma galinha mais velha às galinhas mais moças. Não se trata, contudo, de uma história sobre galinhas, mas sobre gente.
A menina que podia voar e um dia
voou, é aluna de uma professora autoritária,
que separou a classe em “aviões”, “carros” e “carroças”, outro nome para
fortes, médios e fracos. Estigmatizada como lenta porque não atende às
expectativas da professora, a menina e seu amigo, também tido como lento,
sentam-se na última fila e, deles, nada
espera a “mestra”.
De tanto ouvir que é lenta, a menina
incorpora essa imagem. Porém, ela tem à sua disposição os campos imensos da imaginação. Nesse território de liberdade,
o estigma não a alcança. Levada pelo
vento, voa para muito longe do chão. Entre passarinhos e borboletas brinca de
esconde-esconde, pega-pega e passa-anel. Chega à fábrica de tinta das nuvens e
recolhe tintas de todas as cores. Quando volta à terra pede à madrinha para pintar um retrato dela, da menina, com as tintas que trouxera do céu. Mas a madrinha não acreditou nos voos da
menina e nem que as tintas que trouxera
eram tintas celestes.
Perante a madrinha não conseguiu voar.
Mesmo que voasse, ao que tudo indica, a
mulher não enxergaria, pois tem o olhar
viciado na rotina, pouco afeita a voos e sobressaltos. Porém, a sós com sua imaginação, a menina voou e
brincou de viver em outros mundos, onde o que é tocado pela linguagem se
transforma em possibilidade de ser.
Um texto forte que traz um olhar sobre
a diferença e o sofrimento de quem não
cabe nos padrões eleitos como “normais”, aceitáveis ou desejáveis pela
sociedade de humanos. É também um texto que celebra os poderes da imaginação,
como chão mágico onde cresce o sonho e a vontade de viver, a despeito da realidade
esmagadora como a da personagem. Felizmente, “ela podia voar”....